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ConectaMadá faz a educação do campo ultrapassar as dificuldades da pandemia

A estudante de nutrição, Pâmela Karoline Chagas Vale, moradora do quilombo Sucurijuguara é mãe da estudante Hadassa Sofia Chagas Cristo, de 5 anos. Ela acredita que a experiência do ConectaMadá está sendo desafiadora tanto para professores quanto para os pais.

A Escola Municipal de Educação do Campo (EMEC) Professora Maria Madalena Travassos, localizada na praia do Paraíso, no Distrito de Mosqueiro, é exemplo que a educação do campo também tem seu protagonismo e se chama ConectaMadá, uma estratégia criada coletivamente para driblar a Covid-19. A iniciativa tem apresentado resultados positivos que, mesmo diante de todas as diversidades e dificuldades da comunidade escolar, a instituição de ensino se tornou vitrine para outras escolas da rede municipal de Belém.

O coordenador do ConectaMadá, professor Leandro Araújo, conta que no início da pandemia a escola entregava as atividades impressas para os alunos e passava as orientações por whatsapp, mas que não tinha muito retorno, porque os pais repassavam aos alunos as atividades sem experiência didática.

Por conta disso, Leandro decidiu aprender produção e edição de vídeo e iniciou, somente para os seus alunos, o projeto de Incentivo ao Confinamento Social”, o que, segundo ele, “deu certo”.

“Muitas pessoas começaram a acompanhar as aulas publicadas no facebook e passar para seus filhos, parentes. Depois surgiu o convite para participar do programa de teleaulas Educa Belém, em julho de 2020. Com essas experiências, propus à direção da escola produzir vídeo aulas da nossa própria escola. Primeiro, ministrei oficinas aos profissionais de educação da escola, ensinando como construir roteiro, se comportar na frente da câmera e desenvolver a comunicação. O nome #ConectaMadá foi uma sugestão da coordenadora Mayara Ferreira”, lembra Leandro.

Elaborado num formato de programa que inclui o projeto de leitura e horta escolar, o educador começou a mobilizar a comunidade escolar com chamadas para apresentar o ConectaMadá. A primeira temporada, iniciada em setembro de 2020, era semanal. Nesta segunda, iniciada no último mês de abril, as aulas passaram a ser produzidas quinzenalmente.

Desde 2018, a escola tem uma comunidade no facebook, onde publica as aulas do ConectaMadá, além de compartilhar nos grupos de whatsapp. “Apesar das dificuldades de acesso à internet, a comunidade escolar aceitou a iniciativa com muita gratidão. Temos muitos resultados positivos e o nosso projeto impulsionou outras escolas da rede municipal. Além de manter viva a relação do professor, aluno, escola, família e a rotina escolar dos nossos alunos”, afirma.

Ele conta ainda, que na segunda temporada ConectaMadá houve um maior engajamento da filosofia à Escola do Campo, quer dizer, “não mais ter o apoio somente, por exemplo, dos livros didáticos, mas construirmos aulas que promovam à nossa comunidade escolar um mergulho em suas próprias realidades”.

A próxima edição do ConectaMadá terá como temática a quadra junina e a toada do Boi “Flor da Infância”, com o mestre Pedro Valderez, popularmente conhecido como Bacuri do Quilombo Sucurijuquara, para valorizar a cultura local, considerando que muitos alunos participam do boi.

Escola – Para entender melhor este feito, a diretora da escola, Carla Lagoia, informa que a unidade educativa atende 163 alunos da educação infantil até o ensino fundamental, que corresponde do maternal ao 3° ano, na faixa etária de 3 a 8 anos.

“São crianças dos assentamentos Paulo Fontelles, Mártires de Abril, Elizabeth Teixeira; das comunidades rururbanas Chico Mendes e Irmã Doroth; e do quilombo Sucurijuquara. Elas são oriundas de famílias que sobrevivem da agricultura de subsistência, do turismo, do plantio de hortaliças, da manipulação de ervas medicinais e do artesanato”, informa.

Diante dessa realidade, a diretora explica que a escola no campo é resultado da luta histórica de movimentos sociais, para garantir o direito de permanecer no seu local de origem com dignidade, valorizando os saberes do campo e populares, dos territórios como arranjos produtivos e biomas locais no projeto político pedagógico.

“Primeiro é preciso valorizar a identidade camponesa para fortalecer o vínculo da criança com a cultura ancestral das famílias, assim como desenvolver técnicas atuais para valorizar e transformar esse conhecimento agregando valor a terra”, ressalta.

Comunidade – Muitas comunidades estão localizadas a 10km dentro da floresta, em Mosqueiro e uma das estratégias utilizadas pela escola para que o material pedagógico chegasse aos alunos foi o transporte escolar. Para as comunidades com dificuldade de acesso à internet, foram criadas também alternativas para ser acessado o ConectaMadá e, com isso, serem compartilhadas as aulas com moradores. Atualmente, quase 90% dos alunos estão executando e devolvendo as atividades para a escola.

Pâmela Karoline Chagas Vale, moradora do quilombo Sucurijuquara, é mãe da estudante Hadassa Sofia Chagas Cristo, de 5 anos. Ela acredita que a experiência do ConectaMadá está sendo desafiadora, tanto para professores, quanto para os pais.

“Todos os educadores se envolveram adaptando as salas de aula com recursos digitais. É muito importante essa parceria entre escola e família, porque, mesmo com as dificuldades, os alunos não ficaram parados. A colaboração dos pais é essencial para o aprendizado das nossas crianças. Com o CenectaMadá conhecemos cada professor e o empenho deles. Achei muito interessante, claro, que não se compara à sala de aula, mas vejo o desempenho da minha filha ao realizar as atividades”, avalia.

Texto:
Tábita Oliveira